As tecnologias por trás dos Pagamentos Instantâneos
Descubra em meu artigo como QR Codes e Peer-to-Peer estão por trás das inovações mais recentes em meios de pagamentos.
O objetivo da implementação de pagamentos instantâneos no Brasil é amenizar dificuldades como grande uso de dinheiro em espécie, elevado custo para realizar transações interbancárias e altas taxas para transferências entre cartões. Além disso, é preciso considerar que boa parcela da população sequer possui vínculo com alguma instituição financeira.
Como mencionado em artigo anterior, os pagamentos poderão ocorrer de forma ininterrupta (24/7), sendo o valor transferido em uma questão de segundos.Outro ponto importante é é a interoperatividade obtida a partir da solução de pagamentos instantâneos brasileira, ou seja, será possível a transferência de valores entre contas correntes e cartões de crédito mesmo de instituições diferentes.
Segundo o Banco Central, responsável por desenvolver a base de dados e a administração do sistema, as transações se darão nos seguintes modelos:
Entre pessoas (transações P2P ou Peer to Peer);
Entre pessoas e empresas, incluindo comércio eletrônico (P2B ou Person to Business);
Entre empresas (B2B ou Business to Business);
Entre pessoas ou empresas e entidades governamentais para pagamento de taxas e impostos (P2G e B2G ou Person to Government e Business to Government, respectivamente);
Entre entidades governamentais e pessoas ou empresas para pagamentos de salários e benefícios sociais ou de convênios e serviços (G2P e G2B ou Government to Person e Government to Business, respectivamente).
A estrutura do sistema de pagamentos instantâneos funcionará de uma forma diferentes dos modelos DOC e TED. Haverá uma infraestrutura na qualquer entidade (bancos, empresas, fintechs) poderão se conectar a fim de realizar as transferências. Isto irá resultar numa descentralização, já que o serviço não será mais de exclusividade de bancos e as transações serão feitas diretamente entre entidades.
Como será criado um banco de dados centralizado dos perfis das entidades, cada uma delas poderá encontrar umas às outras através de uma identificador como número de telefone ou email. A consequência é o fim da necessidade de informar dados como CPF, agência e conta para efetivar a transação, como vemos ocorrer no caso do DOC.
Uma tecnologia que estará presente na solução de pagamentos instantâneos é o QR Code.
Mas qual a relação de QR Code com Pagamentos Instantâneos?
O conceito de QR Code não é dos mais recentes, tendo sido criado em 1994, mas atualmente ele foi redescoberto como uma nova forma de validar e facilitar o compartilhamento de dados e pagamentos.
Prático e simples, o QR Code é um código de barras bidimensional. Sua tecnologia permite que ele seja lido de qualquer dispositivo móvel com câmera por qualquer usuário. A leitura pode originar links, acesso a um site, páginas de pagamento ou baixar um aplicativo por exemplo. A movimentação dos recursos de contas é disponibilizada em segundos para o recebedor.
A solução QR Code pretende viabilizar também as transferências entre pessoas e empresas. Logo o esperado é que no momento de pagar por algum produto em um estabelecimento, o QR Code seja gerado com dados suficientes para a transferência ocorrer diretamente para uma conta do comércio.
Dessa forma, para o usuário final, será preciso apenas uma conta em qualquer entidade (banco ou fintech) e por meio do aplicativo da entidade determinado valor vai ser transferido para outros usuários com conta em qualquer entidade. Tudo isso somente se identificando pelo banco de dados do Banco Central ou pela leitura do QR Code gerado pelo recebedor.
A quantidade de empresas que têm aderido a essa tecnologia cresceu nos últimos anos.O principal mercado que adotou essa ferramenta foi o chinês, sendo dominado por duas empresas: Tencent (Wechat) e Alibaba (Alipay).
O Wechat, uma das principais ferramentas de comunicação dos chineses, tirou proveito de sua ampla base de usuários frequentes e ativos para inserir a funcionalidade de carteira digital, permitindo assim pagamentos instantâneos peer-to-peer — método de pagamento que falarei com mais detalhes a frente — e dando um último tiro certeiro levando o pagamento para o mundo físico, por meio de QR Codes nos pontos de venda.
O Wechat teve início como um aplicativo de mensagens, muito similar ao Whatsapp, mas hoje se converteu em um super app, ou seja, sua plataforma oferece diferentes tipos de serviços como comprar passagens de trem, pedir comida, reservar pacotes de viagem, pagar contas, chamar um táxi e até mesmo marcar uma consulta no médico.
Uma questão envolvendo as duas grandes empresas chinesas foi o seu duopólio, que ocasionou em uma fricção para o consumidor, pois como não existe uma plataforma unificada, cada empresa precisa ter seu código para cada formato. E é exatamente tal fricção que Banco Central busca evitar.
O intuito levou a criação do grupo GT Pagamentos Instantâneos, que apenas encerrou suas atividades no fim de 2018, com a divulgação do Comunicado nº 32.927 e da versão final dos requisitos fundamentais para o ecossistema de pagamentos instantâneos brasileiro.
A meta do Banco Central é o desenvolvimento de uma plataforma única, na qual todas as empresas possam realizar e receber pagamentos via QR code.
No Brasil é possível ver essa tendência afetando o número de carteiras digitais em diferentes segmentos como:
Ame (Grupo B2W)
Carteira Mercado Pago (Grupo Mercado Livre)
Ifood Pay (Grupo Movile)
Pic Pay (Grupo Banco Original)
Carteira Iti (Grupo Banco Itaú)
O Rappi é uma das empresas que se posiciona como super app. A empresa se define como uma companhia que faz entregas sob demanda: qualquer tipo de produto pode ser entregue e isso inclui mobilidade urbana, graças a parceria com a Grin, garantindo o aluguel de patinetes elétricos em algumas cidades. Atualmente a empresa oferece soluções financeiras por meio do Rappi Pay, serviço que busca solucionar problemas relacionados a transferências, gestão de cartão de crédito e pagamento.
Outro exemplo de aplicativo que já se posiciona como supper app é o Mercado Livre. O que começou como um marketplace, em seguida agregou: sistema de pagamento (o Mercado Pago), recurso de gerenciamento de entregas (o Mercado Envios), ferramenta de criação de lojas virtuais (o Mercado Shops) e solução de propaganda (o Mercado Livre Publicidade).
A gigante varejista, Magazine Luiza, também fala sobre ter uma plataforma semelhante ao Wechat e entrar nessa verdadeira corrida na construção de um super app de pagamentos e conta digital. Essa corrida já não é uma novidade, já que os meios de pagamento no Brasil seguem as tendências da transformação digital e resta saber dentro do ecossistema de inovação brasileiro qual empresa irá assumir a liderança, tal qual o Wechat na China.
E os pagamentos Peer-to-Peer e cartões contactless? Como eles se enquadram em pagamentos instantâneos?
De forma prática, a tecnologia peer-to-peer (P2P) é uma transação de pessoa para pessoa que surgiu para reduzir a burocracia dos pagamentos. Trata-se de uma operação em tempo real, disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana. A partir dessa tecnologia é possível transferir um valor instantâneamente a alguém através de um dispositivo móvel, sem a necessidade de se deslocar até um banco ou pagar altas taxas de transações.
Diferente de um modelo mais tradicional de mobile payment, no qual as instituições bancárias são responsáveis pela conexão de um usuário a um estabelecimento comercial, no caso do pagamento P2P
a conexão do usuário a outro através de um aplicativo de dá independente do banco ou das bandeiras de cartões envolvidas no processo.
A solução P2P pode ser dividida em três categorias:
Modelo não-centrado em banco: usuário utiliza serviço de pagamentos online como intermediário para realizar transferências para outra pessoa, sem precisar passar por um banco.
Modelo centrado em banco: usuário solicita diretamente junto ao banco a transferência para outra pessoa.
Modelo centrado em cartão: operadora do cartão (de crédito ou débito) processa totalmente o pagamento
Logo, a operação não precisa, obrigatoriamente, da atuação do banco como um intermediário. fazendo do pagamento peer-to-peer uma alternativa de pagamentos viável para os 45 milhões de brasileiros desbancarizados.
Levando em consideração a necessidade de mudanças rumo a pagamentos menos burocráticos e mais facilitados algumas bandeiras de cartões buscam oferecer opções mais baratas, com menos atrito e em tempo real.
No Brasil, por meio da parceria Visa/Cielo foi lançado o Visa Direct em 2018. O sistema já está disponível em mais de 30 países. A ferramenta foi integrada a uma plataforma global da Visa e permite que pessoas, empresas e governos depositem valores em uma conta associada ao número do cartão de uma forma rápida, prática e segura.
Ainda no mesmo ano. A Visa realiza mais uma parceria, dessa vez com a Conductor, visando soluções centradas no emissor, permitindo pagamentos via token em carteiras digitais, maior acesso às APIs da Visa e expansão dos push payments com Visa Direct.
Outra bandeira nacional que proporciona pagamento em tempo real é a Elo através de sua API de P2P. Nesse caso, há possibilidade de transferência eletrônica entre dois portadores de bandeira Elo através da AP de P2P. A ferramenta permite que usuários de aplicações parceiras possam transferir valores do seu cartão (débito ou crédito) para outros portadores de cartões Elo, por meio da integração com a plataforma de APIs Elo
No exterior, outras soluções P2P vem ganhando terreno, como Martercard Send e Venmo. No da segunda solução, mesmo sem integração com a conta bancária do usuário, não há necessidade de interação com instituições financeiras para operar e permite que as transações sejam realizadas apenas via aplicativo.
E quem já faz parte dessa nova empreitada?
O que para o Brasil são os primeiros passos, para outros países nem tanto. Japão, Estados Unidos, Índia e algumas nações da Europa já adotam tecnologias de pagamentos instantâneos, enquanto aqui o Banco Centrou em 2018 iniciou os estudos para a implantação do pagamento instantâneo em território nacional.
Nos Estados Unidos, só em 2018, foram movimentados US$ 167 bilhões por meio dos avanços nos pagamentos instantâneos, sendo que esse valor deve ultrapassar a marca dos US$ 300 bilhões em 2021. A quantidade de usuários que realizam pagamentos P2P por celular no país foi estimada em 82,5 milhões de pessoas no ano passado, o equivalente a 40,5% dos usuários de smartphones nos EUA.
Isso representa um crescimento no número de americanos pagando através de aplicativos. Venmo (do PayPal), Squash Cash (da Squash) e Zelle (apoiado por mais de 100 instituições financeiras, entre elas 30 bancos) são três exemplos dos aplicativos mais utilizados.
Já na Holanda, por exemplo, o sistema de pagamentos real-time está em funcionamento desde maio de 2019 e, segundo o Conselho Europeu de Pagamentos (EPC), já foram processados mais de 30 milhões de transações por meio desse novo sistema. Sendo mais de 500 milhões de transações por dia atualmente. Além disso, mais de 99% das transações na Holanda ocorrem em, no máximo, cinco segundos.
O mesmo Conselho ainda afirma que no momento existem mais de 2 mil fornecedores de serviços de pagamento em 16 países europeus que participam do sistema de pagamentos instantâneos, o que representa 49% dos fornecedores de serviços de pagamento da União Europeia. O objetivo do EPC é que até 2020 o sistema seja adotado por 34 países.
Outro país que criou um sistema de pagamentos instantâneos foi a Austrália. Em fevereiro de 2018, surge a Nova Plataforma de Pagamentos (NPP). A iniciativa resultou da colaboração de 13 membros do setor de serviços financeiros da Austrália, incluindo os quatro principais bancos da Austrália e o Reserve Bank of Australia.
A plataforma permite que clientes e empresas utilizem seu número de telefone, endereço de e-mail ou um número comercial australiano (ABN) como proxy para número da conta e assim facilitar a transferência de fundos com um recurso simples de serviço de endereçamento chamado PayID.
Ganhos e perdas
Os meios de pagamentos estão se tornando cada vez mais práticos, instantâneos e gratuitos (sem taxas). É justamente por se encontrarem nesse novo cenário que diferentes bancos iniciaram investimentos na direção de inovações tecnológicas, já que os que souberem investir poderão aumentar sua receita com pagamentos em US$ 500 bilhões até 2025. Isso de acordo de com um relatório Banking Pulse Survey: Two Ways To Win da Accenture, baseado em pesquisa com 240 executivos de pagamentos de bancos de 22 países, incluindo o Brasil.
Caso os bancos não adotem modelos de negócios mais inovadores, segundo o estudo da Accenture, devem perder receitas, sendo que a estimativa de perda é de até 15% da receita global de pagamentos dos bancos, o equivalente a US$ 280 bilhões.
A Accenture também constatou que a receita global de pagamentos provavelmente aumentará para mais de US$ 2 trilhões até 2025. Entretanto, esse crescimento é restrito a bancos que investirem em novos modelos de negócios para conseguirem adotar as mais recentes tecnologias e fornecer mais valor agregado em serviços para seus clientes.
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