A popularização das APIs permitiu que elas não somente integrassem a parte técnica de algumas empresas como também tornassem diferentes modelos de negócios dependentes delas. Por vezes a API acaba sendo o próprio produto. Algumas empresas que trabalham com essa tecnologia fazem uso destas em seus sites, aplicativos web ou aplicativos para dispositivos móveis.
O problema ocorre quando tais organizações iniciam o processos de criação de aplicativos, por exemplo, deixando para depois a questão das APIs para fins de integração com tais apps.
O resultado é uma API que não foi devidamente construída ao longo do projeto. O ideal para evitar futuras falhas ou inconsistências entre app e API é adotar uma estratégia API First, ou seja, construir primeiro a API com base nos interesses do desenvolvedor para em seguida criar o produto em seu topo – seja ele um site ou aplicativo.
Outro ponto que vale mencionar sobre essa abordagem é que ela fortalece a escalabilidade e inovação. Os serviços oferecidos já saem prontos para integrações de diferentes tipos. Logo, a API First possibilita que determinado sistema seja mais flexível, apresente uma resposta mais rápida e se comporte de forma mais dinâmica.
Os benefícios de uma abordagem API First
Uma abordagem baseada em API para desenvolvimento de produtos e serviços consegue oferecer vários benefícios, incluindo:
1. Times de desenvolvimento trabalhando em paralelo
Não é incomum que processos de desenvolvimento sejam síncronos e não paralelos. Por exemplo, os primeiros a atuarem na criação de um novo serviço é o time de pesquisa. Em seguida a equipe de back-end começa a escrever o protótipo. A participação do front-end e Q&A só ocorrerá após a conclusão do protótipo e o compartilhamento da documentação da API.
O empecilho surge quando há a necessidade de aprimoramento por conta de um bug, fazendo este ciclo recomeçar, tomando um tempo valioso de todos os envolvidos e até atrasando o lançamento do produto ou serviço em questão.
Sendo assim, a estratégia possibilita o trabalho paralelo de equipes. Ela envolve também o estabelecimento de um contrato entre determinados serviços por parte dos times de desenvolvimento.
Tal contrato irá permitir que as equipes trabalhem em mais de uma API ao mesmo tempo. Dessa forma, um desenvolvedor não precisa esperar a atualização seguinte de uma API antes de passar para a próxima. Um contrato possibilita a simulação e testes das dependências de APIs com base na definição de API estabelecida.
2. Redução do custo de desenvolvimento de aplicativos
Tanto APIs quanto códigos podem ser reutilizados. Uma abordagem de API First ajuda na resolução de problemas antes que qualquer código seja escrito e previne possíveis erros na hora de integrar uma API a softwares ou aplicativos. Isso economiza tempo e dinheiro, fazendo com que desenvolvedores não precisem começar do zero caso estejam criando um novo aplicativo.
3. Aumento da velocidade de comercialização
A partir do uso de ferramentas adequadas a maior parte do processo de criação de APIs pode ser automatizado. O SwaggerHub, por exemplo, permite importar arquivos de definição de API e com eles a documentação de APIs e SDKs pode ser gerada automaticamente. Com a automação no processo de APIs é possível acrescentar serviços e tecnologias aos aplicativos e lançar novos produtos no mercado mais rapidamente.
4. Garantia de boas Developer Experiences (DX)
Quando falamos de consumidores de APIs, normalmente se trata de desenvolvedores e sua experiência com o produto API pode levar ao sucesso ou fracasso de uma API. A estratégia API First ajuda na criação de APIs mais consistentes, melhor projetadas e documentadas, garantindo uma Developer Experience positiva e uma menor curva de aprendizado.
5. Diminuição do risco de falhas
Hoje em dia, grande parte das empresas utiliza APIs em seus processos, seja em suas vendas ou aplicativos de comunicação. Isso implica que essa tecnologia tem o poder de influenciar positiva ou negativamente em um negócio. Uma API inconsistente, difícil de compreender ou com falhas, irá levar a um descontentamento por parte do usuário. E é daí que vem a importância de saber trabalhar uma abordagem API First.
Uma API não se traduz em apenas um componente técnico de um negócio, mas viabiliza o crescimento acelerado de uma empresa e sua adaptação às necessidades dos usuários finais. Essa agilidade é inerente em estratégias de API First, que possibilita uma rápida adaptação às mudanças.
Equipes de desenvolvimento que seguem tal abordagem possuem mentalidade de API como produto, logo eles possuem maior consciência do potencial de evolução das APIs e como seu espectro de casos de uso deve ser claro desde o início. A API First permite que o time de desenvolvimento primeiro crie um API pensando em sua consistência e confiabilidade. Assim, desenvolvedores estão menos suscetíveis a uma experiência ruim com o produto.
6. APIs mais descritivas
Uma das características mais importantes de uma API é sua capacidade de uso contínuo, logo esta deve ser facilmente compreendida por todos envolvidos em seu processo. Isso implica na necessidade de um documentação detalhada e clara sobre o consumo da API.
A estratégia API First auxilia na elaboração de uma documentação melhor estruturada, seguindo padrão de tipos de recursos, headers, parâmetros de solicitação formatos de resposta. Com isso explorar e entender as funcionalidades da API fica mais fácil mesmo à medida que ela evolui.
Além disso, é importante que sua abordagem de API First contenha:
Brainstorm: identifique os serviços de sus empresa e veja que tipos de APIs devem ser construídas e quais serviços podem ser oferecidos por elas.
Contrato de API: estabeleça um contrato com padrões e as melhores práticas para a concepção de suas APIs, melhorando a comunicação e entendimento da API entre back e front-end.
Guia de estilos (Design Pattern): garanta que suas APIs sejam projetadas da mesma maneira, logo seu Design Pattern deve conter por exemplo códigos dos status das APIs, sua versão e manipulação das falhas.
Governança de APIs: defina diretrizes e políticas com foco em todo o ciclo de vida suas APIs
Automatização de processos: utilize ferramentas automatizar processos como geração de documentação da API e validação de estilo. Forneça também uma documentação interativa ou sandbox para que os desenvolvedores explorem os endpoints da API.
Gerenciamento de portfólio: Evite códigos duplicados e a criação de APIs redundantes
Portal interno para os desenvolvedores: Crie um local onde tudo relacionado às APIs possa ser armazenado (especificação, documentação, referências).
Como grandes empresas tem utilizado essa estratégia?
Algumas organizações foram lançadas com apenas APIs como produto, como Twilio, que transformou a infraestrutura tradicional de telecomunicações possibilitando que os desenvolvedores replicassem qualquer experiência de comunicação através das APIs. Em 2018 a empresa anunciou a Twilio Build, programa parceiro projetado com abordagem API First.
A Twilio Build oferece programas de suporte, certificação e treinamento de mercado para apoiar organizações de consultoria e tecnologia conforme estas fazem parceria com a Twilio. O investimento busca fomentar o próximo estágio de crescimento da empresa, assumindo um mercado de US$ 1,45 trilhão.
O efeito API First
Quando uma empresa utiliza essa abordagem o resultado é um efeito positivo como clientes internos e externos mais confiantes com os serviços, já que a abordagem se propõe a oferecer transparência, escalabilidade, desempenho e benefícios de custo.
A estratégia API First permite que empresas organizem melhor seus processos. É importante considerar primeiro elaborar e desenvolver sua API. Isso irá gerar impactos positivos tais quais economia de tempo, redução de gastos, desempenho aumentado, melhor experiência para todos e deixou sua proposta de valor mais clara.
Para o desenvolvedor isso representa mais facilidade em seu relacionamento com stakeholders (time interno e clientes que desejam consumir a API) bem antes de ter codificado para além do ponto de retorno. Trata-se de um colaboração que permite a criação de histórias de usuários, do mock da API e da documentação a ser usada para alinhar ainda mais a intenção e a funcionalidade do serviço que está sendo desenvolvido.
Adotar um estratégia API First como base para seu modelo de negócio pode representar uma vantagem sobre seus concorrentes de mercado em termos de rápida evolução. Porém é preciso ter consciência de que nem sempre isso valerá para todos os modelos de negócios. Antes de mais nada é essencial conhecer o core da sua empresa e serviços oferecidos, para saber se a introdução de uma API é ou não relevante.