Entenda como mudanças nas APIs do Facebook podem reduzir a discriminação
Com 15 anos de existência, o Facebook é a rede social com maior número de usuários diários: 2,3 bilhões, sendo que 130 milhões são brasileiros. Não podemos negar que amamos uma boa rede social. Esses números representam uma quantia significativa de perfis e um volume ainda maior de dados.
Por esse motivo o Facebook, possui não um, mas três tipos de APIs: Atlas, Graph e Marketing. Estou aqui para falar justamente das duas últimas, já que no dia 31 de Outubro deste ano o Facebook lançou uma nova versão destas APIs: a Graph API v5.0 e Marketing API v5.0
Antes de mais nada talvez você esteja se perguntando as funcionalidades de cada uma.
A Graph API é a principal maneira de obter dados dentro da plataforma do Facebook, podendo ser utilizada para consulta de dados, gerenciamento de anúncios, envio de imagens e uma série de outras atividades que um aplicativo pode executar. É por meio dessa API que um desenvolvedor consegue obter dados armazenados e conteúdos publicados na rede social.
Trata-se de uma API baseada em HTTP de baixo nível , o que significa que ela funciona com qualquer linguagem que tenha em uma biblioteca HTTP. Além disso, por ter essa base, pode ser usada diretamente em seu navegador.
Como seu próprio nome já sugere, a Marketing API refere-se a integração com marketing no Facebook. Ela foi criada para facilitar o gerenciamento de anúncios e o trabalho de desenvolvedores junto com a Graph API.
A Marketing API está disponível para que desenvolvedores possam gerenciar e programar anúncios e campanhas no Facebook e Instagram Ads. São dois níveis de acesso às APIs de marketing:
Nível de desenvolvimento: Experimente e teste os aplicativos com a API.
Acesso padrão de gerenciamento de anúncios: Obtenha mais recursos, como melhores limites de taxas, e seja nomeado ao programa de parceiros do Facebook.
Mas voltando ao ponto onde quero chegar, estas duas APIs passaram por mudanças no fim de Outubro. Uma das principais mudanças irá afetar diretamente como os anúncios são feitos na plataforma do Facebook. Teremos uma nova API de volume de anúncios. Ela limitará o número de anúncios que cada página pode exibir ao mesmo tempo.
A medida terá início em meados de 2020 e ajudará anunciantes a compreender quantos anúncios estão sendo exibidos nas páginas e a se preparar da melhor forma para as limitações introduzidas, sendo que estas só afetarão somente uma pequena porcentagem de anunciantes.
No futuro, além rastrear o volume de anúncios por página, esta API vai informar o número de anúncios que cada página pode usar.
As mudanças na API Marketing incluem uma nova conformidade para a categoria de anúncios especiais. Nesta categoria empresas poderão indicar durante sua chamadas de campanha, se seus anúncios oferecem oportunidades de moradia, emprego ou crédito.
Em março de 2019, o Facebook determinou que todas as empresas localizadas no Estados Unidos ou voltadas para usuários norte-americanos precisam identificar campanhas publicitárias novas e editadas que ofereçam habitação, emprego ou oportunidades de crédito até 4 de dezembro de 2019, caso contrário seus anúncios não terão permissão para serem executados.
Tais organizações também devem especificar uma categoria de anúncio especial e utilizar critérios de público limitado disponibilizadas para categorias de anúncios especiais. Se você faz uso da API Marketing v 5.0, o campo Categoria anúncio especial será requisitado para todos os anúncios, oferecendo oportunidades de habitação, emprego ou crédito.
O Facebook também anunciou os marcos adicionais para as organizações que realizam campanhas que não se enquadram na categoria anúncio especial ou que realizem tais campanhas antes de 4 de dezembro de 2019.
Primeiro marco: 11 de fevereiro de 2020
Essa é a data limite para que empresa localizadas no EUA ou com usuários segmentados no país identifiquem todas as campanhas ativas pertencentes à categoria de anúncio especial e atualizem suas configurações de segmentação para essas campanhas. Sem isso, as empresas não terão permissão de fazer os anúncios.
Segundo marco: 31 de março de 2020
Essa data delimita que todas as empresas que utilizem a API Marketing precisam identificar se suas campanhas (novas e editadas) estão inclusas ou não na categoria de anúncio especial. Para que possam cumprir todas as restrições das campanhas da categoria de anúncio especial, as empresas também terão de atualizar suas configurações de segmentação.
Se estas empresas não possuírem anúncios que ofereçam oportunidades de moradia, emprego ou crédito será preciso indicar que não há nenhuma campanha no campo de Categoria de anúncio especial através da API Marketing.
Você pode estar se perguntando o motivo destas alterações em seus anúncios pelo Facebook a relação de habitação, emprego e crédito nessa mudança. As fortes medidas do Facebook tiveram intuito de ir contra a segmentação discriminatória em seus anúncios, removendo uma variedade de opções de segmentação em determinadas categorias de negócios.
Tudo isso para impedir que empresas usem as ferramentas de publicidade da plataforma para limitar o público se forma injusta.
Em 2016, uma investigação da ProPublica revelou que o sistema do Facebook permitia que os anunciantes excluíssem negras, hispânicas e outras “afinidades étnicas” de visualizar seus anúncios de imóveis.
Na época o Facebook não dava apenas permitia a segmentação dos usuários de acordo com seus interesses ou formação, mas também que os anunciantes excluíssem grupos específicos a partir da chamada “afinidade étnica”. Logo os anúncios podiam excluir pessoas levando em conta sua raça, sexo e outros fatores sensíveis que são proibidos por lei federal sobre habitação e emprego.
Outros grupos como muçulmanos, judeus, imigrantes, divorciados e mulheres com filhos pequenos também podiam ser deixados de lado na hora de receber determinadas propagandas.
A discriminação com base no sexo, raça e religião vai de encontro a Lei dos Direitos Civis de 1964 que proíbe a adoção desse tipo de prática em outros campos, como ofertas de emprego.
O curioso é que na época das ações movidas contra a rede social, devido a discriminação, constatou-se que não havia opção na plataforma para a exclusão de pessoas caucasianas.
A imagem abaixo é uma captura de tela realizada pela ProPublica e vai te ajudar a compreender melhor como se dava a exclusão. Nela você pode ver que o anúncio de imóveis está excluindo afro-americanos, nipo-americanos e hispânicos por meio da “afinidade étnica”.
Outra ação contra a plataforma ocorreu em março deste ano, no qual o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano (HUD, sigla em inglês) dos Estados Unidos processou o Facebook por ter violado o Fair Housing Act, em tradução livre: o ato de habitação justa. O HUD afirmava que a publicidade da rede social era direcionada e assim excluía com base na raça e na cor. A restrição também excluía considerando status familiar, deficiência e religião.
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Este artigo foi escrito por David Ruiz e publicado originalmente em Prensa.li.